AGRICULTURA URBANA E SEGURANÇA ALIMENTAR NO PÓS-COVID
No Brasil, o impacto da pandemia do Coronavírus sobre empresas e empregos reduz salários, expande o contingente de desempregados e maximiza o gasto social.
Nesse contexto, considerando-se que alimentação é a primeira necessidade do ser humano, necessário se faz priorizar a segurança alimentar às classes C, D e E, , atenuando também possíveis tensões sociais no pós-Covid.
Embora o Brasil seja reconhecido mundialmente como potência agrícola, os alimentos, produzidos na zona rural, ao percorrer longas distâncias até as cidades, onde atuam os agentes da intermediação, se tornam demasiadamente caros para os milhões de moradores dos territórios da exclusão e desigualdade. Para estes, alimentação chega a representar 50% do orçamento doméstico. Por tudo isso, torna-se urgente um rearranjo dos sistemas de produção/distribuição que se tornaram ineficientes e insustentáveis para garantir adequado acesso aos alimentos à população na base da pirâmide social.
É preciso pensar para além da agricultura de escala, com seus custos regidos pelo dólar, e considerar que há uma outra fronteira agrícola a explorar: as cidades com seus terrenos ociosos que oportunizam a agricultura orgânica e urbana, que pode gerar trabalho e renda aos que se encontram no desemprego ou sub-emprego. E que concorrerá para a segurança alimentar.
A FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) estima que 800 milhões de pessoas no mundo estão envolvidas com agricultura urbana, seja cultivando uma horta no quintal ou num cantinho do apartamento. No Brasil, Florianópolis/SC e Campos dos Goytacazes/RJ são referências exitosas com 112 e 104 hortas urbanas, respectivamente. No Espírito Santo o projeto “Cuidar de Vidas”, em Cachoeiro de Itapemirim, é o melhor exemplo de produção agrícola com foco na área social. Os terrenos cultivados nos centros urbanos ou em áreas periurbanas proporcionam bem estar, por meio das interações sociais, permitindo também uma reconexão com a natureza. Ao mesmo tempo, contribuem para consumir os restos orgânicos do lixo domiciliar. Já os alimentos da produção agroecológica, por não serem contaminados por resíduos de agrotóxicos, são mais nutritivos, duráveis e saudáveis além de agregar maior valor no mercado pois cada vez mais os consumidores buscam saúde, boa forma e alimentação de verdade.
ROICLES M. COELHO
Técnico Agrícola/Ex-Produtor Rural/Gestor de Informações, Comunicação e Imagem
1 Comment
Merielem
Parabéns Roicles! Ótimo ponto de vista.