No país das crises, mais uma à vista: a crise humanitária.

Das três crises que se instalaram no Brasil – econômica, política e sanitária – a última é a única que poderia ter sido atenuada com o exercício de planejamento governamental. E isso, nos três níveis: federal, estadual e municipal.

Isso é comprovado pelo gerenciamento eficiente da pandemia nas cidades de Niterói/RJ e Florianópolis/SC onde tem sido bastante reduzido o número de infectados pelo novo coronavírus. Ou em países como a Nova Zelândia e até mesmo na América do Sul –  Uruguai e Paraguai.

Uma vez que a covid-19 surgiu na China, migrando depois para a Europa, havia prazo hábil para adoção de medidas preventivas, simples mas eficientes como  a fabricação de máscaras, utilizando a indústria de confecção, e a produção de álcool em gel, pelas usinas sucroalcooleiras. E até mesmo a fabricação de ventiladores, através da indústria nacional, como vem ocorrendo recentemente. Mas não houve planejamento e o preço que o país paga é bastante elevado: milhares de vidas ceifadas, milhões de empregos perdidos, quebradeira de empresas, principalmente as de pequeno porte.

O efeito combinado de todos esses fatores, além do aprofundamento do déficit fiscal e da queda do PIB brasileiro em 2020 – estimada em 8%  pelo Banco Mundial, cria uma cortina de fumaça que possivelmente desvia a atenção de outra ameaça não menos devastadora.

Buscando apagar o incêndio – os efeitos da pandemia na população e na Economia – agentes públicos parecem desatentos às medidas de combate à  fome e desnutrição, que se abatem com  maior impacto sobre  trabalhadores que tiveram salários reduzidos e aqueles que perderam suas fontes de renda. E se essa ameaça é reconhecida, pouco ou nada tem sido feito para minimizá-la. 

Até o momento tudo se resume a políticas assistencialistas, necessárias pelo caráter emergencial, mas que não serão sustentáveis diante da recessão que se aproxima.

Por isso, no  pós-covid, uma das prioridades deverá ser o rearranjo do sistema de produção/distribuição de alimentos que tornou muito cara a cesta básica  para a Classe Média e mais ainda para as famílias situadas na base da pirâmide social. 

Nestas famílias, o gasto com alimentação chega a consumir cerca de 50% do orçamento. Concorre para isso a logística – transporte de grãos e carnes do campo para as cidades – os vários  intermediários entre a produção e os supermercados, o custo mais elevado dos alimentos processados e os gêneros cujos preços são formados pela cotação do dólar na Bolsa Internacional de Alimentos: trigo,soja, milho, carnes, café etc.

Na contramão desse sistema, a agricultura orgânica e urbana, em terrenos ociosos, é alternativa necessária para famílias de baixo poder aquisitivo terem acesso a alimentos saudáveis permitindo também complementação de renda com a venda do excedente da produção de verduras, legumes e frutas. Como tecnologia social,  concorre para a melhoria da saúde, interações sociais,  além de representar terapia ocupacional na reconexão com a natureza. 

Por essa razão, hortas em quintais ou comunitárias, como processo de inclusão produtiva, têm sido projetos exitosos em cidades como Curitiba/PR, Florianópolis/SC, Sete Lagoas/MG, Campos dos Goytacazes/RJ, onde a agricultura familiar se tornou política pública.

Este é um projeto que representa  baixo investimento, retorno rápido, capital político para agentes públicos e fortalecimento da imagem para empresas patrocinadoras, interessadas em agregar valor ao seu balanço social e ambiental.

Todo esse potencial produtivo oportuniza a  expansão  da oferta de alimentos em comunidades de bairros periféricos e, ao mesmo tempo, reduz drasticamente o custo da cesta básica. Mas essa oportunidade demanda planejamento, ação,  agilidade e vontade política – pois quem tem fome, não pode esperar.

 

ROICLES M. COELHO

Técnico Agrícola / Publicitário

Gestor de Informações, Comunicação e Imagem.

(27) 9.9928-8211

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