Quem serão os protagonistas na agenda ASG?
As oportunidades do custo climático.

 

Em 2019, o mercado de crédito de carbono chegou a U$ 215 bilhões, embora o custo do aquecimento global tenha sido 3 vezes mais alto ainda naquele ano. Como um sistema orgânico, o custo geral da mudança climática está crescendo exponencialmente. No entanto, o investimento necessário para compensá-lo com iniciativas de baixo carbono deveria ser suficiente para reverter a tendência. Porém, na velocidade atual as projeções nos levam para um aumento de 2º Celsius, uma espécie de autodestruição moderada.

Dito isto, um preço estimado em U$ 30 por tonelada de carbono e uma emissão total de 36 bilhões de toneladas, criaria um mercado de crédito de carbono adequado, avaliado em cerca de US$ 1 trilhão. Isso representaria apenas 1,15% do produto interno bruto (PIB) mundial para o ano de base de 2019, mas ainda mais importante, permitiria o maior programa de transferência de renda das nações ricas para o mundo subdesenvolvido.

No Brasil, por exemplo, de acordo com o gestor de investimentos da única casa com certificação ASG (Ambiental, Social e Governança) internacional, Fábio Alperowitch, um orçamento anual de U$ 30 bilhões somaria 1% ao seu crescimento e poderia dobrar o crescimento médio do PIB per capita de longo prazo, que é em torno de 1%.

O primeiro aspecto do aquecimento global é a velocidade de emissão de gases estufa, no ritmo atual, estamos aumentando as concentrações de CO2 que em apenas 140 anos seria liberada toda a quantidade de carbono que permaneceu na atmosfera da Terra por bilhões de anos.

O segundo fator da mudança climática é o estoque atual de carbono emitido. Mesmo se fizéssemos uma transição para uma economia zero carbono imediatamente, a atmosfera ainda teria metade do carbono emitido pela civilização moderna com uma concentração 46% maior do que no período anterior. A outra metade foi absorvida pelo oceano, que se tornou mais ácido, colocando em risco muitas espécies, como as algas que são fixadoras naturais de carbono.

O orçamento de carbono para limitar o aquecimento global em 1,5°C termina em apenas 8 anos se mantivermos as emissões atuais.

Mas, neste ponto do texto, se você não está preocupado com essa matemática básica do aquecimento global, lembre-se de que um sistema bioquímico não é uma ciência linear, então mais gases de efeito estufa levam a uma aceleração da crise climática.

A nação mais responsável pelas mudanças climáticas são de longe os Estados Unidos , com um quarto de toda a produção histórica de carbono. Mas a responsabilidade por equiparar seus esforços à capacidade de contribuição não está sendo vista no setor privado lá. A Nike e a Amazon, por exemplo, corporações globais com expressivo acesso a recursos e tecnologia, definiram timidamente suas metas de carbono líquido zero em 2050 e 2040, respectivamente.

Será que elas não deveriam agir como o Salesforce, que definiu agressivamente 2025 como sua meta carbono líquido de zero? Até o momento, é uma empresa com mais de 50 mil funcionários liderada por Marc Benioff , que foi eleito o 2º melhor CEO do Mundo e é um fiel defensor do Capitalismo de Participação.

Espere, mas agora como os capitalistas focados em retorno ao acionista podem sustentar a falácia narrativa de que a sustentabilidade é contra o desempenho financeiro?

Mais destaque para líderes como Benioff, por favor.

Hoje em dia, a China está produzindo gases de efeito estufa duas vezes a taxa dos EUA, mas ainda muito menor em termos de emissão per capita e ainda menor quando feita a análise histórica per capita.

Naturalmente, na Ásia há falta de confiabilidade e transparência pelas políticas da China, que influenciam fortemente toda a região oriental. Na América do Norte, a negação dos fatos pelo último governo dos Estados Unidos e sua retirada do Acordo de Paris deixaram a presidência atual com muito mais promessas do que reputação histórica, portanto, é difícil depositar alí muitas expectativas. Portanto, levando em conta essas 3 maiores potências globais, a Europa surge como o maior grupo capaz de liderar um capitalismo de stakeholders.

De alguma forma, a América Latina também pode ser e o solo fértil para ampliar e consolidar as práticas Ambientais, Sociais e de Governança (ASG) no mundo corporativo. Mas não seja ingênuo, não há tempo para uma transição suave e as chances de limitar o aumento da temperatura a 2ºC são cada vez menores e mais difíceis.

Com a falta de autoridade, quem deve ser seguido? Uma famosa palestra do TED apresentou a América Central e mais especificamente a Costa Rica, como uma das mais eficientes por conciliar crescimento econômico e sustentabilidade. Apesar deste grande exemplo, não podemos colocar todas as nossas esperanças no protagonista político, eles geralmente são reativos, imprevisíveis e muitas vezes não conseguem chegar a um consenso.

Portanto, o dever de transformar está nas mãos do setor empresarial, que tem a velocidade, a autonomia e a criatividade necessárias para trazer soluções, inspirar e atrair multidões.

No Brasil, existem alguns grandes exemplos de cultura socioambiental como na Klabin, classificada globalmente entre os 5 primeiros em práticas ASG por uma plataforma britânica.

Também existe no Brasil um caso de estudo que não deve ser seguido: a JBS. Apesar de ser classificada como a empresa com maior exposição ao desmatamento, possui cerca de U$ 320 milhões em investimentos do maior gestor de ativos do mundo, a BlackRock. E aqui está a cena caricatural de um belo discurso de um CEO de uma empresa de Wall Street desassociado da realidade, Lary Fink, seguido por uma ação contraditória quando se trata de priorizar o lucro rápido em vez da responsabilidade com uma visão de longo prazo.

Ninguém é neutro nessa batalha, o investidor pode retirar recursos de empresas irresponsáveis, os consumidores podem boicotá-las e os executivos podem remodelar seu modelo de negócios. 

Em respeito ao legado de nossa geração, aja agora.

 

Fontes e texto original: Denial of science and leadership void. Why can’t we tackle sustainability?

 

Andre Castelo Branco

Engenheiro Civil, trabalhou com startups e na área de investimentos.

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