A gente que precisa perceber
Há alguns anos a nutrição tem se tornado assunto comum não só na internet mas também em conversas informais. Fico realmente feliz pela nutrição ter alcançado maior visibilidade, porém o que me incomoda é ouvir tantas informações desencontradas e/ou equivocadas. Muitos “isso pode”, “isso engorda”, “toma isso que emagrece” sem nenhum fundamento, além dos corpos malhados, com a legenda “foco, força e fé” que vemos nas redes sociais. Para mim, o mais preocupante é o quanto essa quantidade de informação deturpada pode trazer confusão, comparação e até medo nas pessoas a algo que deveria ser instintivo, como a alimentação.
Com esse excesso de informação, as pessoas esquecem de ouvir o próprio corpo e ficam presas a regras externas quando objetivam ter uma vida saudável, como o “ter que fazer jejum de tantas horas”, “não poder comer pão”, “precisar tomar chás para emagrecer”, “não poder comer doce e se comer, é normal sentir culpa”, “só dá resultado se fizer musculação”. Ou até “quero ter o corpo da fulana”, “vou ver o que ela come para fazer também”. Parece exagero, mas isso acontece. E o pior, é tanta regra que a pessoa não consegue executar tudo (quem conseguiria?) que ela pode acabar não fazendo nada. Pois “já que não consigo fazer isso, melhor nem fazer”, o comum pensamento 8 ou 80.
Quando pensamos em atitudes de 8 ou 80, são atitudes extremas, de tudo ou nada. Ou eu faço jejum de tantas horas ou não faço nada. Ou eu faço exercício 5 vezes na semana ou não faço nada, com o pensamento de que só fazendo o lado extremo, terá algum resultado. E aí entramos na questão: por que só temos alternativas extremas, se podemos pensar em diversas alternativas no meio dessas duas? A verdade é que encontrar o meio termo das atitudes é difícil, mas também o mais importante. Se não consegue fazer exercício 5 vezes na semana, faça o quanto consegue e se sente bem dentro da sua rotina. Perceba seus sinais de fome e saciedade e respeite-os. Se gosta muito de doce, perceba o porquê de querer sempre comer doce e encontre uma alternativa, você não precisa excluir seu doce (ou qualquer tipo de comida). Caso sinta-se muito ansioso e ache que desconta o sentimento na comida, procure ajuda profissional qualificada e perceba outras atividades que geram prazer para você.
Estendendo a conversa, hoje a comida está muito associada ao corpo que alguém quer ter. Eu explico: os corpos vistos nas redes sociais, na grande maioria, necessitam de um grande esforço não só físico e alimentar, mas de tempo, rotina que o maior público não tem acesso. E aí podem aparecer atitudes de restrição alimentar severa, excluindo alimentos e/ou grupos alimentares e piorando a relação com a comida. Um ato de comer muitas vezes com culpa e medo.
É interessante entender que um comer saudável não é excluir algum alimento ou comer pouco. Pelo contrário, é comer de tudo em quantidade suficiente para você, ou seja, ouvir seus sinais internos de fome e saciedade, para decidir o que e o quanto comer. O nosso corpo é o nosso guia, não a regra externa.
Dessa forma, acredito que podemos ser mais conscientes em procurar profissionais qualificados para aproveitar o conteúdo deles nas redes sociais, e para quem tem acesso, fazer um acompanhamento individual. Ter mais senso crítico também ao ver informações na internet e ter uma relação mais leve com a comida e com o corpo. A comida tem muitos papéis na nossa vida social, de lembranças, comemorações, de nos dar energia para o nosso dia. O nosso corpo é inteligente e vai saber mostrar os sinais para você de fome, saciedade, sede, cansaço, ansiedade, a gente que precisa perceber.
Larissa Diniz
Nutricionista